
O candidato do Solidariedade, Dr Ricardo Vieira, quer tirar médicos do serviço burocrático para ampliar o atendimento de pessoas na Capital nas unidades de saúde. Confirmou que vai auditar o trabalho da Casan para evitar que o esgoto chegue até as praias de Florianópolis, para evitar superlotação na UPA, onde trabalha, de pacientes com sintomas de virose. O candidato comentou a polêmica envolvendo a denúncia contra ele relacionada ao projeto Cidade Limpa, quando foi vereador, e se emocionou ao lembrar da morte do filho Samuel, de três anos, que caiu em uma piscina e teve morte cerebral. Disse que jamais se imaginou, como médico, tendo que reanimar o próprio filho. Confira alguns pontos dessa entrevista:
Mais saúde na Capital

Emanuel Soares: Como tem sido sua rotina? O senhor é lotado na Upa Norte, também no Hospital Celso Ramos. Como tem sido lidar com as pessoas que chegam contaminadas com o coronavírus e que podem transmitir essa doença?
Dr Ricardo: (…) A pandemia mostrou pra gente, infelizmente pelo lado negativo, que a gente tem dificuldades na estruturação do sistema de saúde. A gente percebeu que as angústias e a procura do sistema de saúde escancarou essas dificuldades. A gente teve que se desdobrar, enquanto profissionais de saúde, pra conseguir por um lado absorver a demanda que necessitava mesmo de assistência em saúde e, ao mesmo tempo, conseguir dialogar com a população que tá muito angustiada, muito ansiosa, por conta da situação.
Emanuel Soares: Mas o manejo da pandemia, pela prefeitura, foi bom no seu ponto de vista?
Dr Ricardo: Não foi bom! A gente poderia ter tido melhores reestruturações do atendimento.
Emanuel Soares: Em que sentido?
Dr Ricardo: As doenças não entraram em um acordo com o covid. (…) As pessoas continuaram doentes por hipertensão, diabetes, as mulheres continuaram engravidando, as crianças continuaram nascendo. Ou seja, as unidades de saúde hoje estão tendo que se desdobrar em dois pra dar conta dessa demanda que tem que ser atendida do covid, mas não estão conseguindo levar a assistência à saúde da população dos problemas crônicos da assistência que tem que ser dada. Não é por conta dos profissionais de saúde. Eles estão lá e trabalhando. A gente tem um dimensionamento errado do sistema de saúde. A prefeitura de Florianópolis tem 350 médicos. Temos pouco mais que 100 equipes trabalhando, atendendo a população nas unidades de saúde, ou seja, tu não tens uma priorização do atendimento, da primeira porta de entrada. Isso é uma das metas da nossa candidatura.
Emanuel Soares: Mas qual é a mágica pra fazer isso? Precisa de dinheiro pra contratar mais médicos, ampliar as unidades de saúde. Precisa de recursos para isso.
Dr Ricardo: A princípio recurso já tem e esses colegas já estão trabalhando na prefeitura. Só que tem gente na gestão, tem gente que não atende pessoas. A primeira coisa que a gente vai fazer é reorganizar o papel dos profissionais de saúde. Não precisa de tanto cacique, precisa de mais índio. Então a gente precisa de mais médicos atendendo gente. (…)
Emanuel Soares: Esses caciques estão aonde?
Dr Ricardo: A gente tem próximo de 100 médicos em cargos de gestão.
Emanuel Soares: Eles não atendem, em nenhum momento, pacientes?
Dr Ricardo: Eles não atendem pessoas. A gente tem enfermeiros na mesma situação.
Saneamento

Emanuel Soares: Como melhorar o saneamento, especialmente diminuindo a poluição das praias, pra evitar que a UPA, onde o senhor trabalha, fique lotada com gente com diarreia, vômito, né, essas viroses? Todo o verão é assim. Então como evitar esse cenário? Teve um prefeito que falou, no ápice da crise de poluição, que isso era relacionado a má manipulação dos alimentos.
Dr Ricardo: Vou te dizer o nome do vírus que estava na nossa água: novark. Ele estava boiando aqui nas águas de Canasvieiras e Ingleses. Então isso é uma bela de uma mentira, uma enganação. A gente estava com a praia poluída, sim! As pessoas entravam na água e ficavam doentes. Temos saída para o saneamento de Florianópolis. Primeiro a lei do saneamento diz que a responsabilidade por esse serviço (…) é papel do município. Hoje concedemos a prestação dos serviços pra Casan. Só que a Casan vai lá, presta esse serviço pra você, cobra um valor e nem a metade desse valor ela reinveste em Florianópolis. Ela investe no sistema em outro lugar do Estado. Na nossa gestão isso não vai acontecer.
Emanuel Soares: Como senhor vai evitar isso?
Dr Ricardo: Nós vamos tomar o controle do sistema de tratamento de esgotos e fornecimento de água da cidade.
Emanuel Soares: Como isso?
Dr Ricardo: Trabalhando a gestão desse sistema. Vamos auditar o trabalho da Casan e vamos dar prazo para ela demonstrar que está investindo em Florianópolis o que ela está recolhendo dos nossos cidadãos. Se isso não acontecer temos a prerrogativa de romper o contrato com a Casan.
Emanuel Soares: E o senhor colocaria quem, nesse caso?
Dr Ricardo: Municipalizaria o serviço.
Emanuel Soares: Mas isso não iria onerar os cofres públicos?
Dr Ricardo: Não, de maneira nenhuma.
Emanuel Soares: Mas o senhor não teria que criar uma empresa pública?
Dr Ricardo: Hoje já temos um gasto com a Casan que é o gasto natural com a estrutura de prestação de um serviço. Isso não quer dizer que tirar da Casan significa acabar com esse gasto. (…) O que a gente considera inadequado é que esse gasto sirva para lucro. (…)
Projeto ‘Cidade Limpa’ e partidos

Emanuel Soares: O senhor foi vereador entre 2008 e 2016. O senhor já foi do MDB, comunista do PC do B e hoje Solidariedade. O MDB é centro, PC do B é comunista e o Solidariedade é centro esquerda. O que é o Ricardo?
Dr Ricardo: Eu sou um médico que tem convicções de que a política deve ser construída participativamente. O respeito a leitura dos momentos e das vontades tem que ser feita a partir do diálogo com a sociedade. Dependendo de quem escuta o que eu estou falando, esse cara é de esquerda ou ponderado ou centro.
Emanuel Soares: Mas o senhor se classifica como? Esquerda, centro?
Dr Ricardo: Eu sou uma pessoa que tem convicções progressistas de centro esquerda. Me encontrei nos eixos programáticos do Solidariedade. (…)
Emanuel Soares: Os momentos em que o senhor esteve lá na Câmara de Vereadores foram marcados por alguns escândalos. Inclusive o senhor chegou a virar réu de uma ação da Operação Ave de Rapina em que estavam acusando o senhor de receber propina para defender os interesses dos empresários no projeto Cidade Limpa que tramitava na Câmara. O senhor recebeu propina?
Dr Ricardo: Claro que não! De maneira nenhuma. Inclusive já foi reconhecido pelo Ministério Púbico, na nossa argumentação, de que eu nem estava na Câmara de Vereadores no momento em que essa matéria tramitou e foi votada.
Emanuel Soares: Do cidade limpa dos outdoors…
Dr Ricardo: Cumprindo um acordo que eu tinha feito com a nossa chapa de vereadores, eu saí da Câmara de Vereadores para que meus suplentes pudessem assumir. Essa matéria tramitou e ela foi votada pelos meus suplentes. Eu nem votei nessa matéria. Isso eu já argumentei diante do Ministério Público, eles reconheceram isso. Claro que a gente fica, durante anos, tendo que responder por isso e não tem problema nenhum de trazer a tona o que aconteceu. Foi um desgaste muito grande, mas foi aquele momento lá.
Emanuel Soares: O senhor ficou frustrado? A Câmara tem sido marcada por muitos escândalos e esse é mais um em muitos.
Dr Ricardo: Eu me senti frustrado sim. Eu resolvi entrar pra política justamente por esse desejo que estou apresentando agora. (…)