
No passado, o futebol era considerado um esporte unicamente para homens heterossexuais. O preconceito era muito grande. Entretanto, os tempos mudaram. Através de equipes como a Associação Atlética Tubarões, a população LGBTQIA+ ganha espaço no cenário esportivo. O mais importante é que todos são abraçados, tanto os que sabem jogar como os que querem apenas participar de treinos recreativos.
O futebol e o vôlei são os focos da equipe. O futebol, por exemplo, é um dos maiores produtos do Brasil. Entretanto, Daniel Luiz Miranda, secretário de Comunicação e Marketing dos Tubarões, diz que o surgimento da equipe se dá como uma resistência política, onde gays buscam marcar a presença dentro desse espaço.
“A grande motivação da existência do time, a meu ver, é a da resistência política. O futebol como espaço político, que deve ser disputado e ocupado. Isto porque o futebol é o maior produto cultural da América Latina. Qualquer um que junte dois com dois sabe disso. É na internet, no cinema, na televisão, nos filmes, novelas e séries, na literatura, nas grandes mídias, nas posições de destaque, naturalmente, que o processo de produção de heróis e símbolos, nacionais ou individuais, se estabelece”, comentou.
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A Grande Florianópolis foi o berço de início, há quase 15 anos, da primeira equipe de futebol voltada para gays. Foi através do Magia Sport Club. Porém, outras surgiram como o Sereyos e a Associação Atlética Tubarões. A presença do público LGBTQIA+ é cada vez mais forte no esporte. O mais importante é que as equipes abrem espaço para todos os que querem praticar esportes e socializar.
A Associação Atlética Tubarões faz treinos semanais, nas sextas às 22h, na Arena São José. Mesmo que a equipe seja bem recebida em diversos locais, Daniel relata que o preconceito ainda causa incidentes.
“Florianópolis é uma cidade tida por ‘gay friendly’. A Grande Florianópolis é uma outra realidade. Não é exatamente a mesma tranquilidade pra se expressar em todos os cantos, embora sempre sejamos bem tratados, em todos os campos que jogamos e treinamos. Já tivemos incidentes um pouco desagradáveis em amistosos, mas, de forma geral, temos mais experiências positivas do que negativas”, contou.
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Conexão: Como surgiu a ideia e se idealizou uma equipe com foco na diversidade?
Daniel: Pra sermos justos, é uma ideia que existe há muito tempo. Temos o Magia Sport Club, que é o time de fut7 mais antigo do sul do Brasil, com quase 15 anos de existência. Mas, em 2017, houve uma organização nacional – com a criação da Ligay – que levou a criação de várias equipes e ligas regionais e nacionais. Em Floripa, nasceu o Sereyos Sport Club, em 2017. O fundador do time, Eddie Primm, faleceu há menos de um mês. Aproveito pra deixar aqui a minha homenagem. O time cresceu demais e a necessidade de outro time apareceu. Nasceu a Associação Atlética Tubarões.
Conexão: Como os atletas enfrentam o mundo do futebol, considerado hétero?
Daniel: Bom, essa é uma questão que demanda mais do que algumas linhas. A grande motivação da existência do time, a meu ver, é a da resistência política. O futebol como espaço político, que deve ser disputado e ocupado. Isto porque o futebol é o maior produto cultural da América Latina. Qualquer um que junte dois com dois sabe disso. É na internet, no cinema, na televisão, nos filmes, novelas e séries, na literatura, nas grandes mídias, nas posições de destaque, naturalmente, que o processo de produção de heróis e símbolos, nacionais ou individuais, se estabelece. E é também no futebol. Darcy Ribeiro, pensadores do Brasil para o Brasil, já disse há mais de 20 anos: “a pátria do brasileiro comum é o futebol.” Pelé, Maradona, Marta, Formiga, Messi, Neymar, Cristiano Ronaldo… esses são os ídolos do nosso povo. É importante para um adolescente descobrindo a sua sexualidade, numa sociedade que reprime o “diferente”, olhar para o esporte e ver, numa posição de destaque, uma figura LGBTQIA+. Sentir que ela não está sozinha, que não é uma “aberração”. Se esse adolescente já consegue encontrar essa representação em outras áreas da produção cutural, como na música, na TV, no Cinema e etc, por que não consegue no esporte – no futebol? Por isso, buscamos o espaço do esporte. Não é estranho que, numa sociedade com 10% das pessoas autodeclaradas LGBTQIA+, não haja nenhum gay assumido no futebol profissional?
Conexão: Existe uma aceitação de uma equipe assim na Grande Florianópolis, ou o preconceito ainda causa divisões?
Daniel: Florianópolis é uma cidade tida por “gay friendly”. A Grande Florianópolis é uma outra realidade. Não é exatamente a mesma tranquilidade pra se expressar em todos os cantos, embora sempre sejamos bem tratados, em todos os campos que jogamos e treinamos. Já tivemos incidentes um pouco desagradáveis em amistosos, mas, de forma geral, temos mais experiências positivas do que negativas.
Conexão: Que tipo de políticas públicas faltam em SC para incentivar a diversidade no esporte?
Daniel: O Brasil, de forma geral, é um país sem políticas públicas no esporte. A gente não sabe onde quer chegar. Nem mesmo no futebol, nosso maior produto, pra ser sincero. As instituições vão sendo loteadas pra enriquecimento ilícito, governadas pelos mesmos, como verdadeiros feudos, e nada muda… é o mesmo futebol da década de 90. Ou seja, a gente precisa começar a pensar esporte. Dinheiro não falta. Gente também não. E isso precisa passar por um plano de governo. Pra exemplificar isso, eu pergunto: qual o legado da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas do Rio de 2016? Falando do nosso estado, há verbas e editais para a cultura e a diversidade. Falta entender cultura e esporte como indissociáveis, criar e apoiar eventos já existentes – como esses torneios da Ligay – e, principalmente, levar a discussão às escolas. É ensinando sobre esporte e diversidade que se muda a chave para o futuro. Mas, repito, o Brasil não tem onde ir porque não sabe onde quer chegar com o esporte.
Conexão: Quais os dias de treino que vocês têm realizado e o local?
Daniel: Temos uma política de treinamentos que envolve a prática competitiva e encontros mais recreativos. Por ora, por conta da pandemia, estamos levando apenas os treinos recreativos. Treinamos na Arena São José, perto da Mundo Car, todas as sextas, às 22h.
Conexão: Como fazer parte da equipe?
Daniel: É bem simples: basta entrar em contato com a gente pelo @aatubaroes ou com algum atleta conhecido e aparecer nos treinos!
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