
Gabriel Correa da Silva Piazzolli, de 19 anos, é o jovem morto em uma ação da PM (Polícia Militar) que acabou provocando um protesto da comunidade do Siri, em Ingleses, no domingo (15). O atestado de óbito obtido pelo Conexão aponta que ele foi alvejado por um tiro de fuzil com perfuração cardíaca. A morte foi registrada na sexta-feira (13), por volta de 23h, quando a PM fazia um patrulhamento na comunidade. A reportagem do Conexão conversou com a família que está abalada pela situação e estava sem recursos financeiros para pagar os serviços fúnebres e a cremação de Gabriel. Os moradores dizem que o jovem foi executado pela PM, mas a polícia detalha que uma guarnição foi recebida a tiros e que revidou os disparos. O corpo foi encontrado caído no chão em posse de uma arma, o que é rebatido pela comunidade. A família deve fazer uma denúncia na corregedoria da PM.
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A família veio do Rio Grande do Sul e mora em Florianópolis desde 2018, quando se instalaram na região da Rua Ruth Pereira. Para conseguir dinheiro para pagar o funeral do jovem, o padrasto de Gabriel fez um acerto para sair do emprego e receber a indenização. O jovem era natural de São Leopoldo, na Grande Porto Alegre. Segundo relato da mãe, Géssica Correa da Silva, o jovem havia saído de casa para ir a uma festa. Ele estava com amigos junto a um ponto onde havia internet wi-fi, mas quando houve o barulho de tiros, ele teria corrido para um ponto mais claro (onde havia iluminação pública) e acabou alvejado pela PM.
“Minha vida acabou! Não sei o que vou fazer dela. Deram um tiro de fuzil direto no coração dele, sem piedade, sem nem querer saber se tinha uma mãe que ia chorar. (…) No protesto, eu estava falando com eles para liberar o trânsito e fazer as coisas certas. Eles voltaram a fazer de novo: atiraram para machucar uma criança e um jovem com tiros de borracha e o gás que atingiu crianças de colo e as mães. (…) Eu quero justiça, não só pelo meu filho mais por todas as mãe de jovens que choram. E o único crime organizado é de quem se camufla para assinar jovens aleatórios”, disse Géssica Correa da Silva, mãe do jovem.
Em nota, a PM afirmou que fazia patrulhamento tático na comunidade do Siri, quando os policiais foram surpreendidos por disparos de arma de fogo. A guarnição revidou os tiros para garantir a integridade dos policiais. A polícia disse que um homem foi alvejado e foi localizado no meio da rua e em posse de uma pistola, versão contestada pela comunidade. O texto divulgado pela PM ressalta que o jovem tinha 19 anos e apresentava passagens por tráfico de drogas e receptação. Além disso, uma mulher foi presa, suposta namorada de Gabriel, e que ela era procurada pela Justiça pelo crime de tráfico de drogas.
A mãe do jovem confirmou que ouviu tiros dentro da comunidade, mas não sabe a origem deles. O caso será denunciado à corregedoria da PM.
Reações
“Nós queremos Justiça! Falaram que estava armado e não estava. Chegaram executando. É um absurdo uma situação dessas. Somos pessoas honestas que vivemos em uma comunidade pobre e não podemos ser tratados sempre por bandidos”, disse um morador que pediu para não ser identificado por medo de represálias da polícia.
Sobre o protesto que reuniu a comunidade no domingo (15), a PM informou os manifestantes ostentavam cartazes em repúdio a ação policial ocorrida na sexta-feira, onde houve troca de tiros. “O Batalhão de Choque foi acionado e na sua chegada os manifestantes se exaltaram e começaram a arremessar pedras e garrafas contra os policiais militares. Diante da ação dos manifestantes, foi necessária a intervenção com granadas de efeito moral e munição não letal, dispersando os manifestantes e liberando a via”, diz a nota.