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Santa Catarina contesta portaria federal que impõe cota exclusiva para pesca da tainha no Estado

Governo estadual aponta omissões técnicas e aplicação seletiva da norma federal que restringe tradicional modalidade de pesca no litoral catarinense

Jaime Júnior Soares
Por: Jaime Júnior Soares
23/05/2025 às 18h47
Santa Catarina contesta portaria federal que impõe cota exclusiva para pesca da tainha no Estado
Governo de SC contesta cota exclusiva para pesca da tainha e volta à Justiça contra portaria federal - Foto: Ricardo Wolffenbüttel / Arquivo / SECOM

O Governo de Santa Catarina, por meio da Secretaria Executiva da Aquicultura e Pesca (SAQ), anunciou que irá recorrer novamente à Justiça contra a Portaria Interministerial MPA/MMA nº 26/2025, que impõe cotas exclusivas para a pesca da tainha na modalidade de arrasto de praia no litoral catarinense. A medida, considerada discriminatória, foi criticada pelo secretário executivo Tiago Bolan Frigo, que destacou a necessidade de regras justas e isonômicas para todos os estados. “Não podemos aceitar que nossos pescadores artesanais sejam penalizados por uma portaria com fundamentos técnicos, no mínimo, questionáveis”, afirmou.

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Uma análise técnica detalhada, baseada na Nota Técnica SAQ/GAB Nº 002/2025 e em outros documentos oficiais, sustenta que houve omissões e distorções por parte dos órgãos federais durante o processo que resultou na portaria e na decisão judicial que a manteve. Entre os pontos mais controversos, está a alegação federal de que o arrasto de praia só teria regulamentação em Santa Catarina — o que não é verdade. Estados como São Paulo também regulamentam e praticam a modalidade, conforme demonstrado pela Instrução Normativa IBAMA nº 49/2004.

Outro ponto crítico é a fragilidade dos dados de estoque utilizados para justificar a imposição de cotas. Segundo a SAQ, os próprios órgãos federais reconhecem que o Brasil trabalha com dados “precários, insuficientes e fragmentados” há mais de duas décadas. A informação é corroborada pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), que classifica os dados disponíveis como “insuficientes”. Apesar disso, houve aumento da cota global para 2025, o que contradiz o discurso de sobrepesca e levanta dúvidas sobre a real necessidade da medida.

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Além disso, a SAQ aponta disparidades graves no monitoramento e na fiscalização entre os estados, com rigor desproporcional imposto aos pescadores catarinenses, obrigados a reportar capturas em tempo real, enquanto em estados vizinhos, como o Rio Grande do Sul, os dados são submetidos apenas no fim da safra. Também houve falta de participação dos pescadores locais nas discussões da portaria, o que compromete a legitimidade da decisão. O governo estadual afirma que seguirá atuando tecnicamente e juridicamente para defender os interesses da pesca catarinense e garantir o respeito aos direitos dos trabalhadores do setor.

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