Na última quarta-feira, duas lontras da espécie Lontra longicaudis foram soltas no Monumento Natural Municipal da Lagoa do Peri, no Sul da Ilha, em Florianópolis. A ação foi promovida pelo Instituto Ekko Brasil/Projeto Lontra, em parceria com o Grupo Oceanic e o apoio de instituições como o IBAMA, o Instituto do Meio Ambiente de Santa Catarina (IMA) e a Floram. A iniciativa busca reforçar a população da espécie, classificada como quase ameaçada na lista vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), além de contribuir para o equilíbrio dos ecossistemas aquáticos da região.
Os filhotes, um macho e uma fêmea com cerca de oito meses de idade, são filhos de Nanã, lontra resgatada ainda bebê em 2016, quando foi encontrada tentando mamar no corpo da mãe morta sob a Ponte Hercílio Luz. O pai, Lucky, foi entregue voluntariamente a um zoológico e depois encaminhado ao projeto. Segundo a médica veterinária Priscila dos Santos Esteves, os filhotes foram preparados desde cedo para a vida livre: “Eles nasceram em cativeiro, mas o vínculo foi exclusivamente com a mãe, o que favorece a adaptação ao ambiente natural”.
A presença das lontras em ambientes naturais é considerada um indicador de qualidade ambiental, já que a espécie desempenha papel de predador de topo nas cadeias alimentares aquáticas. Perda de habitat, poluição de rios e caça ilegal são ameaças constantes que afetam a sobrevivência desses animais no Brasil. “Hoje vemos menos lontras do que víamos há 20 anos na Lagoa do Peri”, relata Elisa Brod Bacci, educadora ambiental do projeto. “Nosso sonho é que esses animais nasçam e vivam livres em segurança.”
As lontras serão monitoradas após a soltura por meio de armadilhas fotográficas, análise de pegadas, fezes e marcações de território. Já foram identificadas sete tocas usadas por lontras na região, e os corredores ecológicos da área ajudam a conectar a fauna com outros fragmentos de vegetação nativa. “Essa soltura é o resultado de mais de quatro décadas de trabalho para manter a Lagoa do Peri protegida”, ressalta Mariana Hennemann, da Floram. O deslocamento natural dos animais, se acontecer, será considerado um sinal de sucesso da ação e abrirá caminho para novas solturas no futuro.